quinta-feira, abril 25, 2013

Tempos idos na primária


Hoje, em conversa com uma amiga virtual viajei no tempo e fui até aos meus tempos da primária.
Informo que sempre fui boa aluna, excepto numa pequena parte: Nunca soube (nem sei) fazer contas de dividir. Nessa altura tinha uma professora, Teresa, que não só tinha fama de má, como o era realmente. 

Há duas coisas que me ficaram gravadas na memória para todo o sempre: 

1 – uma sova monstra que levei (porque não conseguia fazer contas de dividir, e fui chamada ao quadro para as fazer), levei tanta chapada em frente à turma inteira que já todos choravam comigo, fiquei com a cara toda negra, as orelhas negras, e inchadas, e os pulsos negros pelas reguadas (não batia nas palmas das mãos com a régua, batia nos pulsos). A aldeia indignou-se em peso, acho que foi a única altura em que a professora teve medo, e pediu mil desculpas ao meu avô, porque ele disse-lhe, na cara, que ia fazer queixa dela (e nessa altura os professores eram quase uns deuses nas aldeias, sempre respeitadíssimos). Ele acabou por não fazer queixa, ela nunca mais me chamou ao quadro, e não me prejudicou na restante matéria, e passou a explicar-me as coisas com mais paciência. 
Ainda hoje a detesto, só de pensar no assunto.

2 – tinha uma colega de turma, a Helena, que tinha grandes problemas em português (hoje, suspeito que sofria de dislexia), conseguia ter erros em todas as palavras que escrevia, e nessa altura cada erro valia uma reguada (no pulso). A Helena tinha uma compulsão: não conseguia parar de contar quando começava a fazê-lo. E por muito que lhe pedíssemos para o não fazer, quando estivesse a levar reguadas, ela não conseguia, lá na 10ª ou 11ª começava “11, 12, 13, 14…”, e a prof.Teresa “ah já começaste a contar? Então vamos ver até que número contas” e não parava, até se cansar, porque a Helena não parava de contar. 

Se hoje acho que as crianças abusam dos professores (culpa dos pais), na minha altura, os professores abusavam dos alunos, e era neles que descarregavam as suas frustrações domésticas. 

Se alguma professora (ou professor) batesse na minha filha como essa tal Teresa me bateu a mim (uma única vez), ou como batia na Helena (imensas vezes), não sei se ela (ou ele) estaria viva a esta hora.

Espero que a D. Teresa já tenha morrido. Sinceramente.

5 comentários:

Carlos Rocha disse...

Já levei uma série de reguadas tal, que fiquei com ambas as mãos a tremerem durante todo o intervalo. Mas nunca uma sova primitiva dessas. A primária está cheia dessas "bonitas" estórias. Contaram-me de um professor que dava tacadas de giz aos alunos para eles prestarem atenção.

Teté disse...

Bom, a minha professora da primária também não era pêra doce. E em dias em que acordava de pés de fora, era de fugir...

Lembro-me da manhã de um desses dias, em que resolveu ir verificar quem tinha feito o TPC do ditado, que era escrever a mesma palavra não sei quantas vezes. Quase ninguém tinha feito. E resolveu multiplicar por 4 o número de reguadas a cada aluna. Tive a sorte de não ser das primeiras a ser chamada e enquanto ela se entretinha a dar reguadas à malta, ainda consegui corrigir 3 dos 4 erros, de modo que só levei 4. Mas algumas colegas não tiveram a mesma sorte, e uma tal Fernanda levou 56 reguadas, pouco passava das 9 da manhã. Olha, uma choradeira tal, que nem me lembro como foram as sulas nesse dia... sei que ela nos mandou para outra sala chorar!

Vá que as reguadas eram nas palmas das mãos, mas também não se ensaiava nada de dar uns estalos na cara das alunas. À conta disso, tive de repetir a prova da 2ª classe 3 vezes - fiz uma asneira, e ela encheu-me a cara de bolachas (a mim e a outra), como não conseguíamos parar de chorar, borrávamos a prova, naquela época feita a caneta de tinta permanente...

Tenho a certeza que também faria queixa de um professor que deixasse o meu filho negro dessa maneira, quando andava na escola.

Beijocas enxofraditas!

Hugo Silva disse...

É o 8 e o 80, tanta violência era abusivo também, mas a reguada de tempos a tempos era quase útil :D a minha dava mais por mau comportamento do que por não sabermos algo...

Aí o que me lembro mais era os desgraçados dos canhotos que levavam como se não houvesse amanhã para não escreverem com a esquerda

vidinha disse...

Julgo que de facto se passou do 8 ao 80. Já não fui do tempo das reguadas, mas hoje, como professora, considero que há um desrespeito total pelo professor e já tive conhecimentos de cenas grotescas. Infelizmente esses professores de antigamente não tinham motivos, mas tinham razão; hoje temos motivos, e nunca razão. Quanto aos pais...não tenho a certeza, mas penso que um aluno que não respeita um professor, também não respeita os pais, ou certamente deixará de o fazer a médio prazo.

Diabba disse...

Bom dia,
Tenho a certeza que és uma óptima professora, e garantidamente a minha filha (ainda na primária) respeitará os professores como eles devem ser respeitados.
Aquela minha professora primária era uma excepção, havia outra na escola que todos adoravam, e que feliz que eu fiquei quando finalmente fui para a turma da saudosa D. Beatriz.
E sim tens razão, quem não respeita os professores, não respeita ninguém, muito menos os pais.
beijo d'enxofre

Plágio encapotado. Ler post de 10.Abril.2011.